Mais um sábado à noite em casa

São 21h30min de um sábado e estou em casa. Tenho uma festa para ir, aniversário de colega de trabalho. Até gostaria de marcar presença, mas não tenho vontade de sair daqui. Fiquei o dia inteiro trancada praticamente, só saí para comprar comida.

Ah, comida. Como nada nunca faz sentido pra mim, tenho a comida como alento nas piores fases da distimia. É uma premiação. Tudo está dando errado. Pelo menos posso passar na padaria e comprar uma mil folhas. Ou um Cornetto. Ou três Cornettos. Ou três Cornettos, uma cuca de leite condensado e coco e um pote de doce de leite.

Sim, doces são uma premiação para mim. Tem uma explicação científica, a tal da serotonina, que os distímicos tem alterada. É a substância do humor no cérebro. Maldita serotonina. Mas também tem o fator viciante do carboidrato, explicou ontem meu psiquiatra. Muitos distímicos abusam do álcool ou das drogas. Eu abuso dos doces. É meu vício.

Aliás, fui anoréxica pouco mais de 10 anos atrás. Talvez tenha começado ali minha distimia. Não sei, acho que um pouco antes. Minha mãe fala que eu era uma criança muito alegre até lá pelos 11 anos, quando comecei a menstruar. Diz meu psiqui que é muito importante descobrir quando a doença começou. Quanto mais cedo, mais difícil de se tratar. É até óbvio, pelo fato de a pessoa ter passado mais tempo neste funcionamento melancólico. Mesmo tirando os componentes físicos da distimia com os remédios, diz ele, a pessoa continua a se comportar distimicamente (inventei a palavra), simplesmente porque foi assim que agiu quase a vida inteira.

Eu estou tentando voltar à minha dieta, mas não tenho disciplina. Afinal, pelo menos isso pode me deixar melhor e só depende de mim. Ai ai. Que saco.

Bom, vou pegar um Guaraná Zero e continuar a ver Nine. Já parei umas 50 vezes de ver esse filme. Está muito silencioso aqui.

7 comentários em “Mais um sábado à noite em casa

  1. Sei exatamente o que passa me identifiquei exatamente. Estou assim distímica também e faz muitos anos.Como vc sempre fui rotulada de mal humorada, de pessimista e de alguma maneira me fizeram acreditar nisso até que minha doença fosse diagnosticada. Tomo medicação e fiz terapia e com a terapia e conversas com o médico, tenho tentado neutralizar os rótulos, mas não é fácil. Além de ter que lidar com uma sociedade que não liga a mínima para o estado psicológico das pessoas, ainda ouço frases como: “levanta a cabeça”, “saia dessa” “vc tem que reagir”, ” vc não vontade de fazer nada”, “tudo para vc é ruim”. Enfim, ainda não me acostumei com esse monstro que aniquila diariamente e me empurrou para um estado de solidão imensa, pois já não tenho mais amigos, me acho chata, portanto evito contato. Mas sigo lutando, comendo muito chocolate, pois como vc não bebo, nem me drogo com substâncias ilícitas. Um abraço. Esmeralda

  2. Estava pensando em recomeçar meu blog por aqui, com um tema sobre distimia, e você me aparece com confissões. Sim, vou recomeçar, afinal meu ultimo blog de parafrases filosoficas refletia o que alcancei, mas não o que sou, e por isso não me sentia completo. Tenho distimia, desde os 4, não consigo tratamento porque sempre levo os terapeutas a se contradizerem, e por fim caindo em sua própia limitação. Já li mais de 500 livros mas não me lembro de mais nada, porque não importa mais, quero apenas encontrar algo bonito e acreditar na vida. Dizem que sou superdotado; acho que sou estúpido e ignorante…já acabei, obrigado por ler. Obrigado por compartilhar seus pensamentos. Incluí o facebook aí se quiser me conhecer. Paz e cuide-se. Art.

  3. oi, conheço uma pessoa assim e gosto muito dela. Na sua visão, tem algo ou o que eas pessoas em volta podem fazer para ajudar ou amenizar esse sentimento, principalmente quando a crise está mais forte? Tento ser a mais compreensiva possível mas ainda sinto que não estou ajudando…

    1. Oie Nine
      Obrigada pelo comentário, fico feliz que você esteja tentando entender e ajudar sua amiga. As pessoas geralmente se afastam, simplesmente.
      Olha, não sei muito o que dizer. Não é fácil lidar com essa doença, ela é muito subjetiva.
      Algumas de suas características são a desesperança e o pessimismo. Nem se a pessoa tiver tudo o que ela quiser vai adiantar. É uma praga.
      Talvez o que tu possa fazer é, sempre que ela estiver mal por alguma coisa, tiver pensamentos pessimistas, contra-argumentar com alternativas positivas. É o que minha psicóloga faz, e tem funcionado, na medida do possível.
      Exemplo:
      – Fulano (cara que ela está saindo) não me ligou ontem de noite, aposto que está com outra.
      – Amiga, isso não quer dizer nada. Pode ter sido tantas outras coisas. Ele pode ter pegado no sono, a mensagem pode não ter chegado, a bateria pode ter acabado…
      É um exemplo bem simplista, mas a mesma tática vale para muitas outras situações em que o distímico se sente um injustiçado, um azarado, o último da Terra.
      Não resolve todo o problema, mas ajuda a amenizar o desespero.
      Espero ter ajudado! Depois me conta o andamento das coisas!
      Beijos!

  4. Como está sua vida? As coisas melhoram?
    Eu iniciei meu tratamento ontem. É como nascer de novo?

    1. Oi Roberto! Infelizmente, não é como nascer de novo. É uma luta diária contra si mesmo. Umas épocas são piores, outras melhores… Como está seu tratamento?

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